domingo, 18 de abril de 2010

Odisseia SRP 160



Era chegada a sexta-feira e a hora de saída era por volta das 15h, assim aconteceu eu e o João Paulo saia-mos com destino a Serpa.
Chegados a Serpa, fomos logo em direcção ao Parque de Campismo montar as tendas, a ideia era arranjar um local em que o terreno fosse inclinado de modo que as águas da chuva não fizessem poça, pois a trovoada fazia-se sentir e eu pensava “ a onde eu me vim meter” eheheh.
Montadas as tendas fomos levantar os dorsais, o secretariado foi rápido e ainda pedimos alguns esclarecimentos, de seguida fomos de novo para o parque para jantar pois às 22 horas havia uma sessão de esclarecimento e à hora certa já estávamos de novo no pavilhão.
Apareceu o Luís (Ludos) com más notícias, devido ao estado do tempo que se fazia sentir naquela zona, com as fortes chuvadas os caudais dos leitos das ribeiras tinham subido para o dobro, pondo em perigo quem lá passa-se, e assim vimos reduzidos dos 162km para os 145km, e quem não gostou muito foi o pessoal dos 80km que viram o percurso a ser reduzido para os 48km.
Ouvidos os esclarecimentos fiquei ligeiramente preocupado pois o track já sofrera alterações e não sabia com o que ia contar com este novo percurso, teria que fazer uma prova moderada, os abastecimentos tinham sido alterados, ficando um muito longe teríamos que fazer uma auto-gestão de mantimentos.
Estava na hora de ir dormir e chovia a potes só pensava se a tenda aguentava toda aquela água mas ficou aprovada, eheheh.

Eram 6.20h de sábado quando acordei, estava na hora de arrumar tudo, mas o meu pensamento assim que acordei foi, “ já tenho idade para ter juízo, meto-me em cada uma” eheheh.
Tínhamos que nos despachar, pois o saco com o reforço tinha de ser entregue até às 7.15h, para serem levados para a zona de abastecimento que ficava nos 76km.



8.00h, era dada a partida, os primeiros 2km foram rolantes em estradão, uma forma do pessoal começar a esticar, entrando depois nos singles que nos conduziam ao lado Rio Guadiana durante muito tempo, com muita lama, pedra escorregadia era um suplicio equilibrar a bike, mas lá me ia aguentando com alguma perícia, foi assim durante quase 20km`s o nosso calvário, lama e mais lama, começavam aparecer os primeiros ribeiros foi um sobe e desce constante, notando que eu começava a reagir mal ao esforço, começava assim o efeito psicológico a funcionar, a cabeça começara a pensar que não ia aguentar tal tipo de prova.



Chegava ao primeiro posto de abastecimento, parei para comer e beber algo isotónico, olhei para a bike e lubrifiquei a corrente que estava mal tratada com a lama e água, reflecti um pouco e lembrei-me no que me tinham dito à um tempo numa prova de Trail; “é a mente que comanda o corpo e não o corpo a comandar a mente”, se estava ali era para cumprir a prova, tinha que a cumprir e de novo na estrada, tínhamos pela frente 8km de alcatrão que nem esse era plano, entrando de novo nos trilhos começávamos a descer, atingíamos uma velocidade estonteante mas ia desembocar numa estrada toda coberta de água que mais parecia um rio, dali voltávamos de novo a subir a subir e foi assim de novo um sobe e desce que mais parecia um carrossel, sempre com passagens de água e eu optava muitas vezes em desmontar e levar a bike no ar de forma a não molhar a corrente para não ter problemas mecânicos e chegava ao segundo abastecimento ao fim de 40km.




Tinha que me recompor, viria a parte mais longa sem abastecimento, eram 38km em que iríamos ficar à nossa mercê, foi uma fase complicada, esta parte do percurso serviu ao mesmo tempo para me conhecer melhor em todos os aspectos, quando arranquei, colou-se na roda um companheiro, mas numa subida mais longa ficou para trás e eu fiquei sozinho rolei durante muitos quilómetros só e com um pensamento, acabar, aproveitava para desfrutar da paisagem curtir os trilhos e colocar em pratica o que tinha planeado sobre alimentação e hidratação, os trilhos além de belos eram duros, não havia tanta lama mas começava a chover, ao mesmo tempo sabia bem, servia para baixar a temperatura do corpo, ao longo do percurso só avistei pessoal perto das minas de S. Domingos, estas minas tinham uma paisagem brutesca nunca tinha visto nada assim, tentei ir ao alcance deles e assim aconteceu consegui juntar-me a eles e durante pouco tempo pois na subida mais longa que apareceu ficaram para trás e fiquei de novo sozinho e com a chuva, eheheh.

Chegava ao terceiro abastecimento, local onde estavam os sacos com as nossas coisas e onde se encontrava uma cara laroca e amiga, a Katita, quando ela me viu, foi logo à procura do meu saco para me dar, onde repus os géis e afins e comi algo mais consistente, bidons cheios e estava na hora de partir mas antes aliviei a carga que levava, os chocolates que tinha ficaram com a Katita, desde já os meus agradecimentos pela atenção.

Na saída do abastecimento juntaram-se dois companheiros e por sinal irmãos, conversa para aqui conversa para acolá, lá seguíamos, tínhamos o mesmo ritmo e foi assim que aproveitámos ir os três na conversa, entrávamos num percurso longo com vários quilómetros, um falso plano era sempre a subir ligeiramente e tinha um senão, o trilho era de pedra e provocava uma trepidação que começava a notar-se nos encaixes dos ossos.
Ao longo de vários quilómetros tivemos a certeza que se chegássemos ao final ia ser um vitória pessoal, com o terreno naquelas condições, lama e mais lama que até faz bem à pele eheheh com a distância que era percorrida e com as dezenas de ribeiras que passámos, a passagem pela meta ia ter um sabor especial.
E foi o que aconteceu já perto do final, entrámos no alcatrão e para castigo também era a subir a maior parte dele, começava-se a ver Serpa que nos deu animo para acelerar mais um pouco chegava à meta em 198 lugar da geral com 10.54h, e 2628 de acumulado.
Cheguei com um sorriso do tamanho deste mundo, com uma sensação muito especial de ter cumprido um sonho de há muito tempo por realizar e que naquele dia o realizei.



Bons treinos

2 comentários:

  1. Fantástico Jorge!! Parabéns!! Já ouvi e li relatos que foi uma verdadeira prova de sobrevivência, o que mais valoriza ainda o feito de se terminar o SRP160.

    Tiago (BttOledo)

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  2. Olá!!!!

    Oh pra mim na ZA!!! Diz lá se não foi a melhor ZA do percurso???

    Chegaste ao fim e muito bem! Parabéns!

    Beijinhos e até dia 8 de Maio em Idanha... na ZA!!! eheheheheeh

    Ah e muitos beijinhos para a Sandra e um xi-coração!!!

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